Palmas - Tocantins
quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

NAPsi inicia promoção da saúde mental no ambiente laborativo por meio de rodas de conversa na Comarca de Porto Nacional

Nas relações interpessoais, tratar de roda de conversa se refere ao acolhimento, partilhas e trocas de vivências e experiências que pressupõem um ato de escuta e fala e resultam em diferencial na vida de quem participa desta proposta metodológica.

É assim que uma servidora da Comarca de Porto Nacional, de 33 anos de idade, avalia o primeiro encontro do primeiro grupo de roda de conversa capitaneado pelo Núcleo de Acolhimento e Acompanhamento Psicossocial (NAPsi) do Tribunal de Justiça, sobre saúde mental e trabalho, o qual começou suas atividades no Fórum de Porto Nacional na sexta-feira (5/7).

Para participar dos grupos, os integrantes assumiram um compromisso de confidencialidade, que é uma espécie de contrato baseado na responsabilidade e confiança mútuas.

Tudo que é discutido no grupo, fica no grupo, ou seja, não pode ser compartilhado. Por esta razão, nenhum servidor participante é identificado, seja nos textos ou imagens sobre o projeto, o qual deverá ser estendido para as demais comarcas do Estado no segundo semestre. “No encontro que tivemos hoje, o primeiro dos oito que vão acontecer, eu me senti muito, muito pertencente ao grupo, pude colocar minhas experiências de vida, pude expressar, mesmo, em forma de sentimentos, aquilo que eu estava sentindo, compartilhar emoções, vivências e assim, estou muito feliz porque estou saindo de uma forma diferente do que entrei”, disse a servidora após 1h30 do compartilhamento conduzido pelo psicólogo Sérgio Baggio e o psiquiatra Wordney Camarço, ambos integrantes do NAPsi. “A proposta do grupo é oferecer uma ferramenta que realmente faça o servidor sentir que vai trazer algum benefício real para ele, que ele possa se sentir cuidado, que ele possa se sentir assistido, ouvido, valorizado”, explica o psiquiatra Wordney Camarço.

Na avaliação do profissional, já neste primeiro encontro foi possível constatar que os participantes ficaram bem à vontade, o quê confirmou toda a potencialidade da ferramenta. “A eficiência do grupo é alta, a potência deste grupo é grande, tanto que houve a verbalização de integrantes que gostaram da atividade. Teve também uma servidora que falou que tinha preconceito contra grupos, mas que gostou da experiência que teve aqui hoje conosco”. Segundo o psiquiatra, a dinâmica já serviu para começar a mudar hábitos antigos, como o caso de um integrante do grupo que trabalha há muitos anos ao lado de uma servidora também bastante experiente, mas que teria sido a primeira oportunidade que teve de saber um pouco da vida dela, das lutas que ela passou e ainda passa. “Dentro do local de trabalho, a gente não traz as nossas lutas pessoais, não as compartilha, e acaba por não conseguir sentir a empatia do outro em relação àquilo que a gente está passando.

Dessa forma, muitas vezes pessoas trabalham em um mesmo ambiente, mas ficam afetivamente separadas umas das outras. Por outro lado, quando passa a haver um compartilhamento, esse sofrimento, essa dor, é dividida; se for compartilhada, fica mais fácil de carregar”. O psicólogo Sérgio Baggio, especialista na tecnologia dos grupos em sua atuação em outros dispositivos de redes profissionais, a exemplo do SUS (Sistema Único de Saúde), e, pela primeira vez, no âmbito do Poder Judiciário, desenvolve a roda de conversa por acreditar na potencialidade da metodologia. “A roda, a conversa, a horizontalidade, o lugar de pertencimento em que as pessoas se colocam, nas suas histórias, e como primeira experiência dentro da instituição, a gente pode ver que se replicou mais uma vez o sucesso; as pessoas saíram satisfeitas, sentiram-se incluídas e com desejo de voltar e contar outras histórias”.

O Projeto dos grupos de roda de conversa prevê oito encontros com grupos de, no máximo, doze participantes e cerca de uma hora e meia de duração.

Após os profissionais explicarem as regras do grupo, cada participante tem um tempo determinado para se expressar, mas não há a obrigação de falar se não houver disponibilidade, se não estiver disposto a conversar, explica o psicólogo. “Cada pessoa tem a oportunidade de falar e ao mesmo tempo de ouvir as histórias e é aí que está a potência da roda de conversa: de você ouvir também as outras histórias e debruçar-se sobre essas outras histórias, porque muitas vezes é essa a nossa dificuldade muitas vezes: de ouvir o outro, de saber qual é a história do outro. Então, quando você conhece a história da outra pessoa, passar a se estabelecer uma relação diferente com esse outro, porque você conhece a história dele, você sabe quem ele é”. Um dos participantes, servidor de 30 anos de idade, considerou a experiência grupal muito positiva pelo acolhimento. “No meu caso, trouxe para mim muitos sentimentos bons, pois eu me senti ouvido e acolhido nessa primeira experiência”. O psiquiatra Wordney Camarço destacou, após a conclusão do primeiro encontro em Porto Nacional, a percepção positiva, principalmente, pela participação de um juiz da comarca. “Isso é muito importante porque encoraja e estimula os servidores a participarem”.

Segundo o profissional, outra experiência exitosa ocorreu na Comarca de Colinas – foi realizada uma palestra sobre saúde mental e trabalho – com uma adesão grande dos servidores. “Penso que o fator motivador que veio a propiciar essa grande adesão foi o fato de quatro magistrados da comarca de Colinas terem participado do evento”. “Isso é imprescindível para que os servidores possam participar da forma que estão participando”, avalia.

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